19 Jun 2020

Físicos de partículas atualizam estratégia para o futuro da área na Europa

O conselho da Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN) anunciou nesta sexta-feira (19/06) que atualizou, de forma unânime, a estratégia que irá orientar o futuro da área de Física de Partículas na Europa. O documento, disponível aqui, destaca o impacto científico da Física de Partículas e seu capital tecnológico, social e humano. De acordo com ele, as maiores prioridades da área são o estudo do bóson de Higgs e a exploração das fronteiras de altas energias: duas maneiras cruciais e complementares de abordar questões ainda em aberto na ciência.

“A estratégia é, acima de tudo, impulsionada pela ciência e, portanto, apresenta as prioridades científicas para a área”, disse Ursula Bassler, presidente do conselho do CERN. “O Grupo Estratégico Europeu (ESG) – um órgão especial criado pelo conselho – liderou com sucesso uma reflexão estratégica para a qual várias centenas de físicos europeus contribuíram”.

Concluir a construção do High-Luminosity LHC (HL-LHC) nos próximos anos deve permanecer como o principal foco da Física de Partículas na Europa. As estratégias também destacam que a instalação de maior prioridade após a do LHC deverá ter enfoque em obter uma “fábrica de bósons de Higgs a partir de colisões elétron-pósitron”. A construção desse futuro acelerador de partículas no CERN pode começar dentro de um prazo de menos de 10 anos após a exploração total do HL-LHC, que deve concluir as operações em 2038. Ele permitiria estudar as propriedades do bóson de Higgs com extrema precisão, o que pode ser útil na busca por uma física além do Modelo Padrão.

Outra recomendação do documento é que a Europa, em colaboração com a comunidade mundial, realize um estudo de viabilidade para a construção de um colisor de hádrons com a energia mais alta possível, com o objetivo científico de longo prazo de explorar as fronteiras de altas energias, com um colisor elétron-pósitron como um possível primeiro estágio. Recomenda-se ainda que a Europa continue apoiando projetos de neutrinos no Japão e nos EUA, bem como a colaboração com países fora da Europa, e que a cooperação em áreas similares, como Física Nuclear, também é importante.

“Essa é uma estratégia muito ambiciosa, que descreve um futuro brilhante para a Europa e para o CERN com uma abordagem prudente e gradual”, declarou a diretora geral do CERN, Fabiola Gianotti. “Continuaremos a investir em fortes programas de cooperação entre o CERN e outros institutos de pesquisa nos Estados membros do CERN e além. Essas colaborações são essenciais para o progresso científico e tecnológico sustentado e trazem muitos benefícios sociais”.

O documento enfatiza a importância de aumentar Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) de tecnologias relacionadas a aceleradores e detectores de partículas, e a computação, como pré-requisitos necessários para projetos futuros, que também podem trazer muitos benefícios potenciais para a sociedade. Além do retorno científico imediato, as principais infraestruturas de pesquisa, como o CERN, têm um grande impacto social, graças ao seu capital tecnológico, econômico e humano. Avanços em aceleradores, detectores e computação têm um impacto significativo em diversas áreas, como medicina, inteligência artificial, energia, big data e robótica. Em termos de capital humano, o treinamento de cientistas, engenheiros, técnicos e profissionais de diversas origens é uma parte essencial dos programas de Física de Altas Energias, que fornecem um conjunto de talentos para a indústria e outros campos.

A estratégia também destaca dois outros aspectos essenciais: o meio ambiente e a importância da ciência aberta. “O impacto ambiental das atividades de Física de Partículas deve continuar sendo cuidadosamente estudado e minimizado. Um plano detalhado para a minimização do impacto ambiental e a economia e reutilização de energia deve fazer parte do processo de aprovação de qualquer grande projeto”, afirma o relatório. As tecnologias desenvolvidas pela área de Física de Partículas para minimizar o impacto ambiental de futuras instalações também podem encontrar aplicações mais gerais na proteção ambiental.

“O próximo passo é explorar a viabilidade das recomendações de alta prioridade, continuando a perseguir um programa diversificado de projetos de alto impacto”, explica Halina Abramowicz, presidente da ESG. “A Europa deve manter a porta aberta para participar de outros projetos principais que servirão ao campo como um todo, como o projeto proposto do International Linear Collider”.

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