12 Mar 2020

SPRACE organiza quarta edição do MasterClass para Meninas

Além de realizarem as atividades tradicionais do MasterClass, nesta edição especial do evento as alunas conversaram com cientistas e psicólogos sobre a questão de gênero e como é ser uma mulher em áreas predominantemente masculinas

 

“Por que você vai prestar física? Isso é coisa de menino!” “Matemática? Tem certeza?” “Engenharia tem muito cálculo, homens são melhores nisso.”

Essas são frases que muitas alunas de Ensino Médio ouvem de familiares, colegas e conhecidos. As ciências exatas são muitas vezes associadas ao sexo masculino e ainda hoje vemos um número muito maior de homens em cursos de graduação nas áreas STEM (siga em inglês que agrupa as disciplinas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática). A diferença entre os gêneros, que já pode ser vista na graduação, apenas se agrava em níveis mais altos da carreira. De acordo com um estudo conduzido em 14 países, as probabilidades de uma mulher obter um título universitário, de mestrado e de doutorado nas áreas STEM são de, respectivamente, 18%, 8% e 2%. Para homens, esses números são mais que o dobro (37%, 18% e 6%).

Com o objetivo de diminuir essas diferenças, a ONU declarou em dezembro de 2015 o dia 11 de fevereiro como sendo o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. Apoiando essa iniciativa, o IPPOG (International Particle Physics Outreach Group), ligado à Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN), decidiu realizar edições especiais do seu tradicional evento MasterClass apenas para meninas. O São Paulo Research and Analysis Center (SPRACE), que já organizava o MasterClass tradicional desde 2008, começou a realizar o evento feminino em 2017, quando sua primeira edição aconteceu no CERN. Nos dias 6 e 7 de março, o evento chegou à sua quarta edição.

“Acredito que muitos estudantes não gostam, ou pensam que não gostam, de física porque não conhecem a área”, disse Cleide Rizzatto, uma das organizadoras do MasterClass e professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFSP), Campus Suzano. “Nesta edição especial do MasterClass, além das meninas aprenderem mais sobre física, elas têm contato com pesquisadoras e cientistas para saber como elas desenvolveram suas carreiras – quais os sucessos e os fracassos que tiveram – e para dar palavras de incentivo às meninas que pensam em ter uma carreira em física”.

Assim como no MasterClass tradicional, as participantes tiveram palestras sobre Física de Partículas, fizeram exercícios com dados reais do Large Hadron Collider (LHC), o acelerador de partículas do CERN, e foram apresentadas a experimentos didáticos de física, como a câmera de nuvens, na qual é possível ver rastros de raios cósmicos.

Entretanto, o evento se diferencia pelo fato de que as meninas também têm a oportunidade de conversar, seja pessoalmente ou por videoconferência, com pesquisadoras em diferentes estágios da carreira. Ao compartilharem suas histórias, dificuldades e superações, elas incentivam as meninas a serem o que elas quiserem, independentemente da área escolhida ser de humanas, biológicas ou exatas.

“Além de ser uma oportunidade para as alunas terem contato com Física Moderna, esse evento é interessante porque as meninas têm um espaço sem o julgamento masculino para fazer seus questionamentos; mesmo as meninas que são mais tímidas se manifestam mais”, disse Lilian Cristina de Barros, professora da Escola de Aplicação.

A aluna Bruna Letícia de Souza, do 3º ano do Ensino Médio do IFSP-Suzano, por exemplo, disse que pretende cursar Comunicação Social na universidade, mas que mesmo assim quis participar do evento devido ao seu interesse pelas ciências exatas.

“O evento foi mais acolhedor do que eu esperava, pois abriu-se muito espaço para conversas, tiraram muitas dúvidas nossas e falaram bastante sobre iniciação científica, o que é difícil encontrar em outros lugares”, disse Bruna. “Acho muito importante esse contato com pessoas que entendem a área e que estão dispostas a divulgá-la para os jovens”.

Já a professora Fernanda Luiza de Souza Farias, da Escola Estadual Alves Cruz, conta a história que uma de suas alunas, Yasmim Carvalho de Sena, estava com vergonha de pedir para participar do MasterClass. Porém, após chegar ao evento, Yasmim deixou a timidez de lado.

“Muitas meninas, dentro da sala de aula, são tímidas”, contou Fernanda. “Aqui elas tiveram a oportunidade de se identificar com outras meninas que queriam ser cientistas, fizeram perguntas e participaram ativamente do evento. A Yasmim, inclusive, fez perguntas em inglês para os pesquisadores do CERN durante a videoconferência”.

“Às vezes a gente se sente meio frustrada na sala de aula por não conseguir responder algumas perguntas, mas isso não aconteceu aqui”, disse Yasmim. “Apesar de ser muito conteúdo, deu para entender tudo muito bem, pois os professores explicaram muito bem. Todos foram muito pacientes e tiraram nossas dúvidas. Agora passou a vergonha”.

 

Encontro com Psicólogos

Nesta edição do MasterClass, pela primeira vez as alunas tiveram a oportunidade de conversar com psicólogos sobre questões de gênero. Sentadas em roda com os psicólogos Kelly Souza e Rodrigo de Padula Novaes, as meninas não se limitaram a falar sobre a questão de gênero na ciência, mas também contaram histórias pessoais de suas relações familiares e escolares que revelam como a sociedade ainda é bastante machista.

Nós falamos sobre a dificuldade da mulher na ciência, mas também falamos sobre questões sociais que englobam família, escola e os colegas”, disse Kelly. “As meninas foram muito participativas e, apesar de novas, se mostraram muito conscientes”.

 

Uma história MasterClass

Maria Luana Bueno de Sá veio pela primeira vez ao MasterClass em 2018, quando estava no 2º ano do Ensino Médio no IFSP- Suzano. “Comecei a vir para o MasterClass porque sempre me interessei por física. O que vemos dessa disciplina na escola é muito diferente do que vemos aqui. Aqui vemos que ela é um campo muito complexo e curioso, no qual você quer encontrar respostas para as perguntas que estão sendo feitas”, disse Maria Luana.

A estudante, que estava na dúvida entre cursar Física, Química e Ciências Físicas e Biomoleculares, voltou ao MasterClass em 2019, como aluna do 3º ano do Ensino Médio. “Sempre tive receio de cursar física, porque ao mesmo tempo que eu me interessava pela disciplina no Ensino Médio, via que era apenas contas. Aqui contas são o que você menos vê. Aqui você vê a teoria, como as coisas funcionam, e você é questionado sobre respostas que ainda não foram encontradas sobre o universo”.

Após participar de duas edições do MasterClass, Maria Luana decidiu escolher física como carreira e foi aprovada na Universidade de São Paulo (USP), onde está cursando o primeiro semestre. “Vir para o MasterClass foi um gatilho, porque essa área me interessou muito e eu pretendo continuar a estudando”.

Ainda esse mês, o SPRACE organizará o MasterClass Avançado, no dia 13, e o MasterClass Iniciantes, nos dias 23 e 24. Para mais informações, acesse: https://sprace.org.br/index.php/education-outreach/masterclass/masterclass-2020/.

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